“Deus me perdoe, se é pecado
Mas eu queria ser fita
Só para andar na cintura
Duma cabocla bonita.”
Versos paraibanos
Nos olhos dela, um brilho encantador que faz as noites claras de outono parecerem a neblina de inverno. Um castanho profundo e intenso que faria uma certa cigana oblíqua e dissimulada de longas tranças parecer ainda mais pueril do que o fora. Emoldurando este olhar, uma face serena, de maçãs do rosto rosadas de sol e, em momentos particularmente inquietantes, enrubescidas por um acanhamento de que ainda duvido.
Seus cabelos longos e levemente ondulados parecem acompanhar a brisa mansa que de leve toca o mar em fim de tarde. Calma, quente, inesperada mas sempre oportuna. Nesses fios compridos, poderia perder-me e não querer pensar em retorno. Meus dedos os tocariam com a destreza de um artesão e os percorreriam com uma calma monástica.
Delineado de forma ímpar, o colo, que abriga os melhores aromas já percebidos, revela em sutileza a sensibilidade ao toque, ao beijo, ao calor e à gota d’água em noite de garoa. Basta uma delas e, num movimento discreto, ela me transporta ao céu (Prefiro não descobrir se isso tudo é intencional). Nele, o suor que gentilmente toma o espaço é néctar.
Ah, seu andar! Seu andar me encanta pela suavidade e pela certeza de que pode chegar onde quiser. Os movimentos leves de seus quadris parecem me embalar numa viagem eterna a uma terra onde o solo é fértil, a chuva farta e o sol nunca nos desaponta. Entre dois pontos, não há mais um caminho, mas um take em slow motion. Um momento de distorção do espaço e do tempo para que o universo renda as devidas saudações à sua passagem.
Nenhuma teoria ou conceito genético seria capaz de explicar a delicadeza de suas mãos. Seu toque brando e seguro faz com que sua presença jamais seja esquecida. Enquanto fala, o movimento de seus dedos parece reger o mundo ao seu redor. Dois minutos em discurso transformam todos em volta em impecável orquestra. Sua voz, melodia harmoniosa, acolhe, anima, consola e ao mesmo tempo, tira da inércia.
Não há Iracema, Vênus, Cleópatra, Julieta ou Dalila que se aproximem de sua presença. Para que ter apenas os lábios de mel, quando seus amores podem ser mais doces que o vinho? Para que contrapor-se a Marte se, mais que uma alegoria, a coexistência pacífica em um sistema solar há muito existe e por muito ainda sobreviverá? Para que força e poder reafirmados, quando aquilo que é dela faz-se presente sem anúncio? Para que o veneno que engana, quando da verdade de sua existência é que emana a certeza da alegria? Para que deixar que minhas forças sejam roubadas quando seria capaz de entregá-las voluntariamente?