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Apoteose

Estrear um novo blog. Querendo ou não, há algo de responsabilidade no ar. Depois de quase dois anos e meio sem publicar uma linha, resolvi por as mãos à obra novamente. Domínio registrado, ideia concebida, mas o mesmo problema se mostrava. Como começar? Todo mundo quer um início brilhante, um primeiro texto de impacto, algo que prenda o leitor e o faça voltar sempre que puder.

 

Mas sabemos que a vida não é brilhante todos os dias, há aqueles mais cinzentos, aqueles mais turvos. Venha então o início como deve ser, como hoje, como ontem… um dia normal. E não veja nada de pejorativo nisso. Quando digo normal, quero dizer “venha como vier e seja bem-vindo”.

 

Mas o que me tirou então da inércia? Aqueles que me conhecem devem pensar que foi o show do Los Hermanos anteontem na Apoteose. Depois de dois anos, o reencontro para uma apresentação preparada para fãs, com direito até a “Cher Antoine”, realmente não me deixaria da mesma forma que entrei ali. Mas a gênese do texto não estava ali. Uma hora e meia e um Kraftwerk depois, começava a ser concebida essa quase-epístola. Era real a presença do Radiohead aqui.

 

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Como admirador tardio, confesso que durante muito tempo só ouvia “Creep”, “Fake Plastic Trees”, “High and Dry” (resgatada pelo Jamie Cullum à minha lista de mais ouvidas) e de repente uma ou outra faixa perdida. Até tentei ouvir algo mais, mas acredito no momento do encontro e ele ainda não havia acontecido. Passado um tempo, até conheci outras faixas e reconheci que eram boas, mesmo assim não ganhavam espaço no player.

 

Acho que e a história mudou e o tal encontro aconteceu quando resolvi comprar o ingresso pro show ainda na primeira semana de vendas. Leia isso: na primeira. Eu sequer sabia que os Hermanos abririam o show, mas já iria ver os caras de Oxford no palco. Como músico, tive a imensa curiosidade de saber como aquilo funcionaria na real. A tal história continuou em mudança quando resolvi ouvir mais músicas porque detesto ser pego de surpresa num show, sem conhecer metade do que se toca. Conclusão: In Rainbows e OK Computer já figuram no meu rol de álbuns brilhantes. Mas vamos ao show, que é o que interessa.

 

Durante um pouco mais de duas horas, Tom Yorke me provou que uma banda tida por muitos como deprê pode ter uma energia de palco fantástica. “15 Step” é perfeita para abrir um espetáculo como aquele. Enquanto vinte e quatro mil pessoas tentavam acompanhar a música, o verso que mais me representava era “Did the cat get your tongue?”. Como minha avó dizia, o gato tinha comido minha língua e eu estava speechless. Um Yorke impressionante com seus companheiros de palco chegaram sem saudar o público, até um simpático “Boa noite, nós somos o Radiohead” quebrar o gelo. E quem não sabia quem são eles? Tudo bem, ouvi a mesma tirada no último show do R.E.M. por aqui, em novembro passado.

 

“Airbag” em seguida mostrou que a noite não seria pouca coisa e “There there” me fez ter o primeiro momento de alumbramento com um palco impecável. No meio de um cubo iluminado, a banda fazia sua performance, com o telão ao fundo mostrando seus integrantes a partir de câmeras em posição pouco convencional. Não só a concepção do palco, mas seu funcionamento, impressionava a cada faixa. Um espetáculo de luz e efeitos: clima calmo, chuva, céu estrelado, planos móveis. A sensação que fosse desejada poderia ser conseguida com aqueles efeitos luminosos.

 

Para aqueles que, como eu, duvidavam, as faixas do Kid A funcionam ao vivo sim. “No surprises” fica excelente com o público cantando, e uma câmera em super close de Yorke com um perdido Jonny Greenwood ao fundo podem ter um efeito de imagem excelente. Para aqueles que esperavam tanto, “Paranoid Android” foi catártica, purificadora. Obviamente, não podemos deixar de notar uma cordialidade incomum, e a execução já esperada de “Creep” depois do show do México.

 

Diante do efeito causado, não posso esquecer de dedicar esse primeiro post ao Gustavo, há 12 anos meu irmão,o cara que me ensinou a gostar de Radiohead, que me fez comprar o ingresso ainda em dezembro, mas que ficou a 2200km da celebração esperada. Salve Picos, salve Rio, salve Oxforshire.

 

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